sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Equipe do ICMBio fiscaliza impactos ambientais no interior do Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas


O Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas (RVS-CP) é uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral e foi criado no dia 03 de abril de 2006 por Decreto presidencial. Esta categoria de UC não implica necessariamente na desapropriação das terras, desde que haja compatibilidade entre o uso das propriedades privadas e os objetivos da Unidade. Localiza-se na região conhecida como Horizonte, abrangendo parte do ecossistema de campos naturais de Palmas e General Carneiro, Estado do Paraná, na divisa com o estado de Santa Catarina.

Durante as palestras e reuniões com a comunidade e Instituições a equipe de gestão do RVS-CP tem constantemente repetido e deixado clara a proibição de supressão de vegetação nativa, não só na Unidade de Conservação, como também em todo o Bioma Mata Atlântica (sul, parte do sudeste e nordeste do Brasil). 

A Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, conhecida como Lei da Mata Atlântica, define regras claras para as possibilidades de supressão de vegetação, sendo proibido o desmatamento de vegetação em estágio avançado de regeneração (salvo se decretada utilidade/interesse público). Todo e qualquer desmatamento necessita de autorização do órgão ambiental competente (federal, estadual ou municipal, dependendo do caso). O ecossistema dos campos naturais (predominantes em Palmas/PR) está salvaguardado pela Resolução SEMA 023/2009 que proíbe a supressão e a conversão de vegetação nativa nas áreas de ocorrência de Campos. Ou seja, dentro ou fora do RVS dos Campos de Palmas, é proibida a conversão dos campos naturais para qualquer uso (lavoura, silvicultura, pomar).

Além disso, o art. 4 do Decreto de criação desta Unidade de Conservação impede a supressão de vegetação nativa em seu interior e uma Resolução Conjunta (Nº 05 de 2008) entre SEMA, IAP e IBAMA determina que a faixa de APP (área de preservação permanente) mínima para qualquer área úmida no estado deve ser de 50 metros.

Apesar do senso comum não considerar os campos naturais uma formação florestal, os campos são responsáveis por importantes serviços ambientais. Abrigam alta biodiversidade, com cerca de 2,2 mil espécies vegetais, cujo conhecimento sobre usos potenciais ainda é incipiente (Boldrini, 2009) [1]. Garantem a conservação de recursos hídricos superficiais (Kozera, et al., 2009)[2] e subterrâneos (Melo, 2009)[3], e oferecem beleza cênica com potencial turístico importante. Sua conservação tem implicações no balanço de carbono no solo e nas emissões de gases do efeito estufa, contribuindo assim no esforço de mitigação de mudanças climáticas globais (Soussana, 2009)[4].

A despeito de todos os esclarecimentos e leis em questão, incluindo uma reunião particular na sede da UC, uma equipe do ICMBio teve que realizar ação fiscalizatória no interior do RVS-CP nos últimos dias, onde cerca de 19ha de vegetação nativa (campos naturais, árvores, APP e vegetação em regeneração) foi derrubada/convertida.

A importância desta Unidade de Conservação Federal vem sendo reconhecida, importantes passos para o avanço na gestão da área e na resolução de impasses entre proprietários e UC, visando a compatibilização entre produção e conservação - nos moldes de áreas protegidas na Europa - vem sendo conquistados, tais como a elaboração do Plano de Manejo e o funcionamento ativo e pleno do Conselho da UC.

A sociedade, justificadamente, cria relevantes expectativas em relação ao futuro daquela área, e espera-se que atitudes como essa não se tornem comuns e que após tantos avanços, não sejam dados passos em retrocesso.


 


                                                                               




 











[1] Boldrini, I.I. 2009. A flora dos Campos do Rio Grande do Sul. In Campos Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (ed. V. D. Pillar, S. C. Müller, Z. M. S. Castilhos & A. V. A. Jacques), pp. 63-77. Brasília, Ministério do Meio Ambiente.

[2] Kozera, C., Kuniyoshi, I.S., Galvão, F. & Curcio , G.R. 2009. Composição florística de uma formação pioneira com Influência fluvial em Balsa Nova, PR, Brasil. Floresta 39: 309-322

[3] Melo, M.S. 2009. Aqüífero Furnas: urgência na proteção de mananciais subterrâneos em Ponta Grossa, PR. In
Seminário Internacional “Experiências de Agendas 21 - Desafios do Nosso Tempo”. Curitiba.

[4] Soussana, J.-F. 2009. Os desafios da ciência das pastagens européias são relevantes para os Campos Sulinos? In Campos Sulinos: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (ed. V. D. Pillar, S. C. Müller, Z. M. S. 

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